Há tempos eu não via o dia amanhecer como hoje, menina. O céu está cinza, mas não está poético. As cores não me despertam nenhum sentimento e minha visão se confunde em um imenso borrão de colorações mal combinadas. O vento não toca a pele e o som das ruas são só barulhos que me incomodam. Não sinto nada. Não sou nada. E eu que sempre achei que estava em um caminho, não me encontro, nem mesmo sei medir os meus passos.
Há tempos eu não sentia, menina, e hoje ao ver você tão longe tive uma overdose de sentimentos. No fundo eu sou fraco, largo a minha armadura e escrevo enquanto sinto a minha vida chegar ao fim. Passo a perceber o mundo ao meu redor, e apenas vejo como o tudo se entristeceu por não ter mais você ao alcance dos olhos.
Há tempos eu não me arrependia, menina. Eu sempre olhei para frente sem pensar em voltar para trás. Mas hoje, só hoje, eu voltei uns cem passos pra ver se ainda te encontrava no meio do caminho. Eu que sempre quis andar ao lado de alguém, te deixei só e não soube acompanhar seus pés. No fim, errado fui eu, menina, por aceitar seguir sem você e me permitir te perder de vista. Mas eu sou fraco, tanto que digo hoje, mas o hoje não condiz com nosso tempo. O hoje ficou lá atrás e eu só percebi agora que nem o calendário e os elementos temporais eu consigo acompanhar. Há tempos, menina, eu não sabia como enfrentar um dia como hoje.